Novas Perspectivas sobre a Psicologia Goética: Marbas e a Tecnologia
O estudo dos demônios e suas representações pode gerar muitas dúvidas. Um dos pontos que causa confusão é a conexão entre as formas que os demônios assumem em um ritual e suas correspondências astrológicas. Muitas vezes, as formas não parecem combinar com a natureza que se espera deles.
Por exemplo, pode ser desconcertante um demônio associado à terra, como é o caso de Marbas, se apresentar na forma de um leão, que geralmente simboliza fogo e autoridade. Essa dúvida me levou a investigar mais sobre o assunto.
Em busca de respostas, decidi seguir o conselho do meu mestre e diretamente perguntar ao demônio. Essa iniciativa foi diferente da maioria dos meus rituais, que normalmente visavam o estudo ou a dominação do poder em questão.
Para evocar Marbas, fiz uma mistura de incenso que refletisse sua dualidade, tanto de natureza terrestre quanto ígnea. Após algumas invocações, percebi a presença do demônio. Diante de mim, surgiram a cabeça de um leão que rapidamente se transformou em um homem vestido com um manto vermelho e um capuz.
Ao concluir os rituais iniciais, fiz a pergunta que me preocupava: “O que determina a forma com que os Guardiões se mostram aos Evocadores?”
O espírito respondeu com uma voz arrastada: “Apresentamo-nos na forma que sua mente está pronta para perceber. As pessoas têm imagens coletivas em suas mentes, e as forças que agem a favor da percepção se manifestam de forma semelhante. Quando você vê autoridade, por exemplo, imagina um leão, e assim nós aparecemos com características leoninas.”
Ao questionar sobre as constelações e sua relação, o espírito explicou que a percepção do céu varia de acordo com o tempo e o lugar. Por isso, alguns Guardiões mostram símbolos de certas regiões celestiais, enquanto outros refletem outros aspectos.
Com isso, compreendi que a imagem do leão é apenas uma representação de seu poder. Marbas confirmou isso, dizendo: “Sou o Senhor da Transmutação.” Perguntei se seu domínio era simplificar o mundo, e ele respondeu que sim.
Essa conversa trouxe à tona um ponto importante sobre a natureza humana. As pessoas naturalmente tentam tornar seu ambiente mais seguro e confortável, moldando a realidade para diminuir suas dificuldades. Essa motivação se relaciona a uma força conhecida como o Gênio Mahasiah, que ajuda a buscar maneiras de facilitar a vida e evitar medos.
O lema desse Gênio fala sobre proteção e busca por paz, buscando harmonia no mundo. Contudo, ao buscar conforto, as pessoas muitas vezes limitam suas percepções e afastam aquilo que não conseguem controlar. Assim, o desejo de conforto se transforma em um mundo estreito.
Marbas, como uma representação dessa limitação, é descrito no Lemegeton como um grande presidente que pode criar e curar doenças, além de ensinar habilidades manuais. A forma do leão representa o poder de Marbas em controlar e domar a mente humana.
O poder dele é ligado a Mercúrio e ao signo de Touro, o que traz agilidade intelectual e uma base prática para suas manifestações. Pessoas sob a influência de Marbas destacam-se em suas habilidades tecnológicas, criando métodos que tornam a vida mais fácil.
Entretanto, essa dominância também carrega um risco. A visão reduzida do mundo traz segurança, mas também falta de desenvolvimento e criatividade. Ao confiar apenas na tecnologia, as pessoas se afastam de experiências mais amplas e espirituais.
O mago, nesse contexto, não busca apenas controlar a realidade à sua volta, mas também entender os limites impospostos por essa visão estreita. Ele é capaz de viver tanto a praticidade quanto a poesia, reconhecendo a interdependência entre a mente e os mistérios da vida.
Para o mago, a abordagem não é rejeitar tecnologia ou a comodidade, mas reconhecer as limitações desse mundo reduzido. Essa consciência permite uma busca por um equilíbrio entre compreensão e mistério, levando a um entendimento mais profundo da existência.
Dessa forma, o poder de Marbas, ao simplificar a vida, pode criar uma ilusão de controle que restringe a mente. É essencial manter um espaço para a incerteza e o desconhecido, pois é aí que reside a verdadeira riqueza de experiências e aprendizados.
Ao entender Marbas e suas manifestações, não apenas olhamos para a technologia como uma ferramenta, mas também como um reflexo do desejo humano de controle e simplicidade. Essa reflexão nos leva a um entendimento mais abrangente de nossa relação com a realidade e os poderes que habitam nosso mundo.
A dualidade entre conforto e incerteza é uma parte natural da experiência humana. Ao enfrentarmos essa dualidade, conseguimos um caminho mais equilibrado e potencialmente mais gratificante. O mago deve ser tanto um realizador quanto um sonhador, navegando pelas complexidades do ser em busca de um entendimento mais completo e satisfatório.
